Gente junta

Como li outro dia, a cidade é um lugar onde muita gente se reúne pra ficar sozinha.

Hoje, no metrô, trombei com umas três pessoas coloridas – estou com um problema, quase todo mundo ficou em preto-e-branco – e me pergunto porque não puxei papo com ninguém: nem a mulher que pegou minha lapiseira que caiu do caderno, nem o senhor lendo Freakconomics, nem a adolescente com cabelo pink.

Não me entenda mal, não tinha interesse ficar com ninguém. É só que era gente diferente, fora da curva, por um ou outro motivo. Gente como anda difícil encontrar.

Mas eu estava em preto-e-branco, não falei com ninguém.

Gente esquisita

Gente esquisita!

O lamento da gente do rochedo

Ali, nas águas que banham o rochedo,
a pequena caixinha balança,
sacudida pelas ondas insolentes.

A gente do rochedo se angustia:
– Por que importunar assim tão indefesa criatura?!

Mas ela é resistente,
e com o malvado não se abala;
tudo o que faz, é continuar com sua vidinha de caixa.

Não mexa com o Mar, pequenina,
não mexa que ele se zanga!
É o que pensa a gente do rochedo,
pois nada mais podem fazer por ela.

Ainda assim, ela flutua, indiferente,
embalada incansavelmente pelas águas:
se preocupar não é coisa de caixa, é coisa de gente.

Até que o Mar a convence,
para o desespero daquela gente;
não é segredo para ninguém,
que seu argumento é persistente.

E é assim que, onda a onda, a caixinha se deixa levar;
parece consciente de que por ali não pode ficar.

Agora, toda a gente do rochedo se desespera; e lamenta:
– Pra que levar para longe, algo tão pequenino?
O Mar não responde, ele nunca responde!
Mas não deve haver outra explicação:
deve gostar de caixinhas.

Em memória do pequeno Thallys.