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O que é democracia

Toda vez que um determinado grupo tenta impor suas ideias à sociedade usando o peso do Estado, uma imagem que me ocorre é a da Democracia como um prédio tentando se manter estável em terreno arenoso: simplesmente não vai dar certo, uma hora essa porra cai!

democracia

Agora, para começarmos a discussão, vamos assumir este pressuposto: todos somos diferentes. Em outras palavras, somos seres autônomos, nosso modo de pensar e agir e encarar a vida é diferente das outras pessoas.

Aí surge um problema: vivemos em sociedade e virtualmente tudo o que fazemos afeta as outras pessoas. Como resolver esse problema?

A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro (Herbert Spencer)

A citação de Spencer, me arrisco a dizer que é um dos princípios para a boa convivência em sociedade, carrega consigo a ideia de que todos os homens – e mulheres, e criaturas verdes de olhos esbugalhados (como diria Douglas Adams), mas escrever segundo as normas do “Politicamente correto” é cansativo – são livres; mas a liberdade de cada um só pode ser plenamente exercida se levarmos em conta o direito a liberdade do outro. Em outras palavras, sua liberdade só será respeita se você puder respeitar a do outro.

Mas Spencer era anarquista e um mundo onde cada um pode fazer e pensar o que quiser, respeitando as liberdades do outro, ainda é hipotético, tudo indica que a Humanidade ainda não alcançou um grau de esclarecimento e engajamento suficiente para que possa viver sem a figura de um governo e ainda assim em harmonia. Levando em conta o poder que a Tecnologia da Informação nos oferece, isso daria um outro post, ou uma história; se você se interessa pelo assunto, Isaac Asimov escreveu um conto bem interessante, O Conflito Evitável.

Ok, então surge a necessidade de uma forma de governo. Mas a gente já está longe da Idade Média, quando os reis e a Igreja Católica tentavam empurrar sua visão de mundo goela abaixo na sociedade; e a gente já passou pelo Iluminismo e viu um florescer do pensamento e o nascer da “Era da Informação”. Não gostamos muito da ideia de ter alguém mandando nos rumos do país e de nossa vida; mas já que isso é importante, que pelo menos a gente possa escolher quem vai ficar ali. É por isso que compartilho da opinião de Churchill:

A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos (Winston Churchill, estadista britânico)

Por um lado, esse pensamento é de um idealismo que beira a mais profunda ingenuidade, mas parece que nós, seres humanos, precisamos almejar conceitos elevados, inalcançáveis até, para que possamos implementar alguma coisa aqui; algo como as sombras que o Mundo das Ideias, de Platão, lança na realidade que a gente vive. Ainda assim, além de ingênuo, considero o pensamento de Churchill de uma sabedoria crua, “das ruas”, como diria um colega de trabalho. É um conceito cínico, simples e genial. A Democracia “é o que tem pra hoje”: podemos tentar fazer com que a opinião de todos seja ouvida, discutida e respeitada. Mas como todos pensamos diferente (lembra do pressuposto no começo deste texto?), é preciso a prática da Política no seu estado bruto, como concebida pelos filósofos: arranjar um acordo, fazer concessões dos dois lados, conseguir um meio termo que satisfaça às aspirações de todos.

Por fim, chegamos ao conceito no qual queria chegar: “a beleza da Democracia não está em atender à vontade da maioria, mas no respeito às minorias” (não sei quem primeiro formulou esse pensamento, mas gostaria muito de achar o autor; se alguém puder ajudar, agradeço). O problema da vontade da maioria é que ela, essa tal maioria, pode ser desinformada ou manipulada. Como leigo, minha impressão é que nossa Constituição é bem avançada ao tentar definir direitos fundamentais, exatamente para evitar que a vontade da maioria não oprima as minorias. Se na prática isso não ocorre, a questão já seria outra e demandaria outro post.

É por isso que sempre procuro alertar a todos para a questão da Diversidade; precisamos, a todo custo, aceitar que o outro é diferente. Precisamos entender que é a suprema maldade com o próximo (mesmo que não percebamos assim), e um sério risco à Democracia impor nossos pensamentos e modo de vida ao outro, sem discussão de ideias, sem debate, sem consenso. Gera desencanto, provoca mal-estar e fere as liberdades individuais.

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